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Escrever todos os dias

Outro dia, estava navegando pela internet e encontrei esse artigo: “Should Writers Write Every Day?”, que pode ser traduzido como “os escritores devem escrever todos os dias?” ~ essa é uma questão constante para quem se aproxima das questões literárias. O artigo é muito bom, recomendo a leitura, pois o autor, Chuck Wendig, nos mostra como esse tema pode ser controverso. O mais interessante no texto é como ele não impõe uma verdade única sobre o tema, mas mostra diversos lados dessa afirmação – com um certo mau-humor, é verdade, e ainda assim com uma honestidade que me agrada.


Chuck Wedig traz algumas ideias interessantes ~ primeiro, esse lugar que alguns autores alcançam e que, por isso, passam a trazer seu processo de escrita como o único caminho verdadeiro para atingirmos seu patamar, como se houvesse somente um modo de se tornar escritor ou “melhorar” sua escrita. Ao longo do artigo, ele vai desmistificando um pouco desses postulados, principalmente sobre o mito da escrita de todo dia.


Muitos escritores que estão em nossas prateleiras hoje em dia foram cronistas, por exemplo. Precisavam escrever todo-santo-dia. Boa parte deles conta de como esse exercício cotidiano foi um desafio em suas vidas ~ como isso de ser obrigado a escrever diariamente muitas vezes era algo horrível. Outros atribuem a qualidade de seus textos a essa obrigação diária.


O ponto é que temos um tensionamento: como qualquer atividade humana, quanto mais a fazemos, mais eficiente nos tornamos. Ainda assim, todas elas têm um limite, um limiar em que deixa de fazer bem e se torna um fardo a diminuir nossa potência. A disciplina na escrita faz bem? Certamente que sim, no entanto, será que é isso, como questiona Chuck Wedig em seu artigo, que nos torna escritores? (Aliás, essa é uma pergunta que venho me fazendo – o que define alguém como escritor?)


Escrever todos os dias pode ser algo que nos ajuda bastante ~ mas há o risco do esvaziamento, do perder o sentido. Não escrever nunca também não ajuda muito quem está planejando um livro ou quer uma certa “proficiência” na escrita. A questão é que a medida para essa prática não vem de fora para dentro. Aliás, pode até vir de uma recomendação, no entanto, quem saberá o quanto faz sentido é quem está sentado ali na frente da folha em branco.


No ano passado, eu havia me proposto escrever semanalmente neste blog. Não consegui. No começo do ano, mantive um ritmo durante algum tempo. No entanto, manter uma escrita semanal por aqui não se sustentou, não foi muito fácil, por diversos motivos ~ vida pessoal, mestrado, ideias para textos, tempo.


A escrita exige, isso é fato. E exige mais do que uma mão disposta a trabalhar. Como trouxe aqui outro dia, a gente escreve com o corpo todo ~ e a cabeça também. Sendo tão exigente, precisamos pensar nos limites e no quanto estamos dispostos a oferecer a esse processo. Precisa ser todos os dias? Talvez, não. Talvez, sim. Talvez, por algum tempo. Talvez, para sempre. Tudo vai depender de como você quer se colocar em relação a ela e, também, de como ela ~ a própria escrita ~ se coloca diante de você.


Você escreve todos os dias? Como essa lenda da escrita te chega?


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