Como está seu corpo nesse momento em que me lê? Está em pé, deitado, sentado?
Eu estou despertando, com o corpo ainda meio mole e já um pouco tenso. Enquanto tomo meu café, já sinto os ombros levantados e o peito um pouco apertado pelas demandas da semana. Os olhos ainda queriam ficar fechados e sonhando, a cabeça já está envolvida nos afazeres do dia.
O ato de escrever parece demandar somente mãos e cérebro, mas será que é só isso mesmo? Em qualquer ação, mesmo que não estejamos conscientes disso, o corpo todo continua existindo (um pouco óbvio, não é?): haveria alguma marca do que estamos fazendo?
Será que o modo como o corpo se coloca influencia a nossa escrita? Quando os textos fluem e jorram de nós, como está nosso corpo? Ou quando as palavras estão travadas, paradas, o corpo está diferente disso? Como é a escrita do corpo sentado, do corpo em pé, do corpo relaxado, tenso, com fome, dolorido?
Às vezes, durante o processo de escrita, o corpo pode pedir outros movimentos ou uma aquietação. Cada texto pede um corpo diferente ~ nos colocamos de modos diferentes em cada escrita. Não só nos diferentes gêneros, mas também nos diferentes momentos ~ do dia, do mês, da vida. O corpo vai mudando, o texto vai pedindo outros corpos.
Me inquieto com a possibilidade de colocar o corpo para trabalhar as palavras junto com o pensamento. Para além das questões da postura, um exercício de pensar o corpo por inteiro, observando o que acontece com o texto se mudo a relação com o meu próprio ser físico. Experimentar um texto que acontece enquanto mexo os dedos dos pés, ou a cabeça inclinada, com uma das mãos sem se movimentar. Se eu movimento esse corpo, o texto se movimenta? Em qual direção? Se o corpo se aquieta, o texto descansa?
Em março, pelas redes do Travessias, fiz uma “Provocação para escritas” relacionada ao tema do corpo. O vídeo propõe isso: escrever a partir dos afetos que o corpo traz.
Como te parece essa relação entre escrita e corpo?
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