Não tenho certeza se todos os textos daqui deveriam falar somente sobre escrita. Eu sei ~ é um blog de um curso de escrita. Por outro lado, o Travessias Textuais não é somente sobre escrever; quer dizer, é, sim, sobre escrever, mas há muito mais assuntos envolvidos.
Como venho falando em textos e vídeos, há muito mais nesse processo que somente técnicas específicas que colaboram para que a gente consiga colocar as palavras no papel.
Talvez esse texto de hoje seja somente uma coleção de impressões sobre tudo isso.
Uma das impressões está relacionada à filosofia. Filosofia como isso de querer entender mundo. Isso de questionar vida. Isso de deixar as perguntas suspensas como balões que nos levam conforme o vento. Não significa compreender e saber de cor cada fase da história da Filosofia. Para filosofar, pouco importa se Nietzsche discordava ou concordava com Platão. É a questão latejante o que atrela escrita e filosofia. É a inquietação.
Escrevemos porque algo nos incomoda, nos descola (será? Penso sobre isso aqui). E o que é a filosofia se não puro deslocamento de nossas certezas?
Talvez, eu queira trazer para esse blog os balões repletos de perguntas.
Outra impressão minha é a relação entre a vida cotidiana e a escrita.
Há dias em que encontramos as palavras no jardim, enquanto arrancamos os matos. Outros dias, nossas ideias aparecem nas sarjetas das ruas em que caminhamos. Eu também costumo me deparar com meus textos em tecidos, linhas, louças, músicas. Me parece que, quanto mais atenta à vida por ela mesma, mais me conecto com a escrita. Talvez seja uma característica minha, no entanto, tenho cada vez mais certeza da vida estar intimamente imbricada no que escrevemos.
Poderia, então, escrever aqui sobre o café, sabe?, distraidamente, porque hoje me dei conta de que meus cafés estão ficando mais fracos conforme fico mais velha. Café fraco seria tema para blog de curso de escrita?
E minha última impressão de hoje. A gente finge viver em uma bolha em que o mundo lá fora não está desmoronando. É quase cínico, mas entendo como uma forma de encontrar ar, encontrar refúgio. Ainda assim, estamos inseridos no mundo. Estamos em relação com esse mundo – seja porque nossa vida não parou nessa pandemia, seja porque a vida lá fora nos chega através das redes sociais. Mesmo pretendendo ser esse um lugar em que possamos nos sentir aliviadas, distantes dessa loucura contemporânea, é preciso que se lembre: nossos textos, mesmo quando trazem questões supostamente atemporais, estão, sim, situadas em determinada época, contexto, lugar. Não tenho certeza se conseguiríamos, de fato, escrever sem nenhum traço do que nos afeta ao nosso redor. Então, talvez, falar do mundo, das gentes, dos tempos atuais, também seria assunto de blog de curso de escrita?
Prender-se a um só tema ~ a escrita ~ ou libertar-se e trazer essas outras inquietações para cá? Perder-se para se encontrar? Ou fixar um ponto e girar sobre ele?
(E enquanto termino esse texto, me questiono se ele deve mesmo ir para o blog.)
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