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Textos em Travessias: Gymnopédie No.1, Rafaela Hermeto

O som do piano vai entrando pelos poros, pelos ouvidos e me encantando

A sala grande, arejada, o piano de meia cauda (ou seria 1/4? )

Eu estou em pé, no meio da sala

É sonho?

Ela no piano, tocando, não sei se nota minha presença

É um espaço – tempo curioso

As janelas abertas, o verde lá fora, o ar fresco

inspiro profundo, expiro suave.


O quadro do tataravô, o sofá de couro fininho, cor de vinho

macio, fresco no tato.

O chão de tábua corrida, alguns tapetes velhos e puídos, farpa.

Farpa, gosto dessa palavra, acho que foi lá que aprendi. Tinha receio de farpas, as que entravam nos pés e as outras…

Ao lado da sala o escritório fechado.

Sempre foi misterioso pra mim

De lá saíam as folhas de calendário que nos davam pra desenhar, eram grandes, quase quadradas, meio grossas

Lembro do lado do calendário, tinha um grande e dois pequenos

Presente, passado, futuro

Hoje as janelas ficam fechadas, os livros se foram as traças engordam


Eu era bem pequena, as mãos gordinhas

Ela tinha 80, as mãos magras, enrugadas

Em cima do piano as 4 mãos e uma corrente

Escorrendo das mãos dela e acolhidas pelas minhas

Uma foto para o registro: elos de uma corrente

Ele alto, magro, bonito

A câmera sempre pendurada no pescoço,

devia ter a minha idade (de hoje)

Nascido em 17 de maio, assim como Satie

Ainda ressoa em mim


(Texto escrito por Rafaela Hermeto, para aula do Travessias Textuais)


Imagem Klara Kulikova

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